-
Viver na Murtosa
-
A Murtosa
- História
História
"Foi talvez pelo ano de 1200 que se fixaram neste rincão da beira-mar algumas famílias de marnoteiros e pescadores que não tardaram a aproveitar também os recursos da terra. Numa doação ao convento de Tarouca, no ano de 1242, aparece mencionada, com o nome de Morrecosa ou Mortecosa, uma marinha de sal que não será temerário aproximar das origens da Murtosa."
No entanto, é possível que, a princípio, lavradores e pescadores formassem classes aparte, pois a actual vila provém de dois núcleos distintos. Pardelhas pertenceu ao termo de Figueiredo, e os seus moradores eram foreiros do mosteiro de Vila Cova, situado na freguesia de Sandim. Murtosa entrou no Couto de Antoã e Avanca, pertencente ao Mosteiro de Arouca. Ambas se desenvolveram a par e formaram em bom entendimento uma unidade para o governo eclesiástico, antes de constituírem uma unidade para a administração civil.
Parece que a paróquia já existia em princípios do século XVI. Numa espécie de censo da população, feito em 1527, aparece no termo da Vila da Bemposta, "cabeça do concelho de Figueiredo", a "aldeia de Pardelhas e freguesia", com 47 vizinhos. A "aldeia da Murtosa e sua juradia", pertencia então ao termo da vila de Antuã e tinha 22 vizinhos. As duas aldeias somavam, pois 69 vizinhos - núcleo populacional importante, comparado com outros: Estarreja tinha 50, Salreu 37, Avanca 50, Pardilhó 20, Saidouros (Bunheiro) 19, Aveiras (Veiros) 34.
Num "Promptuário das Terras de Portugal" organizado em 1689, afirma-se explicitamente essa divisão: pertenciam ao termo da Bemposta os lugares do Ribeiro, Agra, Rua do Ribeiro, Pardelhas, Outeiro, Caneira e a Póvoa da Saldida; ao de Estarreja ficavam Murtosa e Monte.
A documentação relativa aos dois aglomerados populacionais tem de procurar-se respectivamente no que resta dos cartórios de S. Bento da Ave-Maria (para a qual passaram as freiras de Vila Cova em 1535) e de Arouca.
Quanto a Pardelhas, sabe-se que, já em 7 de Março de 1287, mandava el-rei D. Dinis que lá não exercesse jurisdição o juiz da Feira. O convento de Vila Cova pôs-lhe depois seu juiz e procurador, até que, em 13 de Maio do ano de 1358, por carta de el-rei D. Pedro, ficou assente que toda a jurisdição do crime e do cível pertencia ao concelho de Figueiredo. O mosteiro de Vila-Cova obteve para os seus caseiros e lavradores que moravam em Pardelhas alguns privilégios por cartas de 2 de Janeiro de 1448 e 3 de Novembro de 1451.
As terras pertencentes a Arouca estavam divididas das de Vila-Cova por marcos e divisões de que fala a carta de instituição do Couto de Antoã em 1257 e uma inquirição de 1334.
No século XVI, o convento de S. Bento da Ave-Maria organizou o tombo das suas propriedades em Pardelhas e, em 1697, mandou erigir novos marcos de pedra com o báculo de S. Bento e a respectiva data. No auto de demarcação, fala-se no "arco da capela-mor da igreja velha da Murtosa", antecessora da actual.
As freiras beneditinas tiveram questão sobre as rendas de Pardelhas com Jorge Moniz, senhor de Angeja, em 1575, e com o Marquês de Angeja em 1756."
OLIVEIRA, Miguel de - Nótula Histórica da Murtosa. Progresso da Murtosa. Murtosa: Mário Silva. Nº. 369 (1936).
Desde tempos imemoriais, a Torreira pertenceu ao Termo de Cabanões e mais tarde a Ovar.
Num decreto da Legislação Portuguesa de 24 de Outubro de 1855, há referência da passagem da Torreira para o Concelho de Estarreja, ordenando-se que a dita freguesia ficasse unida para todos os efeitos administrativos e judiciais à freguesia da Murtosa.
A freguesia civil foi criada em 30 de Outubro de 1926 e incluída no actual Concelho da Murtosa. Foi elevada a vila em 12 de Julho de 1997.
O Monte foi criado como freguesia civil em 17 de Julho de 1933, sendo desmembrada também religiosamente da freguesia da Murtosa.
O Bunheiro pertenceu à freguesia de Avanca, devendo ter sido destacada pelos fins do século XVI.
As quatro freguesias que hoje constituem o Concelho: Murtosa, Monte, Bunheiro e Torreira estiveram anexadas ao Concelho de Estarreja até 1926.
A luta pelo movimento autonómico durou alguns anos.
Em 27 de Abril de 1898, o Dr. Barbosa Magalhães, apresentou nas cortes um Projecto de Lei propondo a criação do Concelho da Murtosa, constituído pelas freguesias da Murtosa e Bunheiro. Continuando este povo sem ser atendido nos seus protestos de emancipação, alguns "Homens Ilustres", deslocaram-se às cortes gerais, em 7 de Abril de 1899, solicitando a aprovação da sua petição de elevar a Murtosa a Concelho.
Após grande insistência, o então Ministro do Interior, Jaime Afreixo, colabora com o povo da Murtosa e esta desanexa-se de Estarreja, em 29 de Outubro de 1926.
Bandeira, armas e selo do Município da Murtosa
Pela portaria nº. 7:602, de 20 de Junho de 1933, foi constituída a bandeira, armas e selo do Município da Murtosa.
"De ouro, coberto de rede vermelha. Escudete de prata com três gaivotas da sua cor, realçadas a negro. Duas faixas ondadas, uma de verde e outra de azul, carregadas de peixes de prata. Coroa mural de prata de quatro torres. Bandeira vermelha. Listel branco com letras de negro. Cordões e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança douradas."
Precursores da criação do Concelho da Murtosa:
O direito à liberdade administrativa da Murtosa foi reclamada nas Cortes, em sessão de 27 de Abril de 1898, sendo representante do respectivo projecto de lei o douto jurisconsulto e deputado Dr. Barbosa de Magalhães, por força e mérito do movimento autonómico da geração Murtoseira de 1898, no qual se destacaram os seguintes homens:
- Albino R. Sebolão
- António Augusto V. Almeida
- António M.M.Vilar
- António Valente de Almeida
- Filipe J. Tavares
- Francisco J. S. Vagueiro
- João Valente de Almeida
- Joaquim M. S. Gravato
- Joaquim M. S. Gravato (Júnior)
- José Maria Barbosa
- Manuel J. Cardoso Cunha
- Manuel J. Lopes Pereira
- Manuel de Oliveira Ramos
- Manuel M. Barbosa
- Manuel M. R. Sebolão
- Miguel V. A. Silva
- Pe. Manuel J. Valente
- Pe. Rodrigo L. Tavares
- António F. Matoso
- António J. Pinho
- Joaquim Soares
- José Maria Soares
- Manuel Matoso
- Tomaz Biker
- João P. M. Vilar
- Domingos M. Matos
Presidentes da Comissão Administrativa
Presidentes da Câmara Municipal da Murtosa
- António José de Oliveira Guerra - (Presidente da Comissão Administrativa) - 1926 a 1928
- Júlio Ferreira Baptista (Presidente da Comissão Administrativa) - 1928 a 1929
- João Carlos Henriques Tavares de Sousa (Presidente da Comissão Administrativa) - 1929 a 1930; 1932 a 1935
- António Augusto Valente de Almeida (Presidente da Comissão Administrativa) - 1930 a 1932
- José Tavares Afonso e Cunha (Presidente da Comissão Administrativa) - 1935 a 1937; (Presidente da Câmara) - 1959 a 1963
- Frederico de Clamouse Browne Van Zeller (Presidente da Comissão Administrativa) - 1937
- Apolinário da Silva Portugal (Presidente da Câmara) - 1937 a 1959
- António Fernando de Sousa Tavares Cascais (Presidente da Câmara) - 1963 a 1967
- Celso Augusto Baptista dos Santos (Presidente da Câmara) - 1967 a 1969
- Miguel Maria da Silva Portugal (Presidente da Câmara) - 1969 a 1970
- Manuel Leite de Almeida Baptista (Presidente da Câmara) - 1970 a 1974
- Aurélio do Patrocínio Nunes (Presidente da Câmara) - 1974
- José Maria da Silva (Presidente da Comissão Administrativa) - 1974 a 1977
- António Joaquim Morais Tavares da Fonseca (Presidente da Câmara) - 1977 a 1985
- Manuel Cunha da Silva (Presidente da Câmara) - 1985 a 1986
- Manuel Maria Portugal da Fonseca (Presidente da Câmara) - 1986 a 1990
- Augusto Carlos dos Santos Leite (Presidente da Câmara) - 1990 a 1998
- Domingos da Silva Lopes (Presidente da Câmara) - 4 de Agosto a 1 de Outubro de 1995
- António Maria dos Santos Sousa (Presidente da Câmara) - 1998 e seguintes
Alguma bibliografia sobre a história do Concelho:
- BARBOSA, José Maria- A Murtoza: A proposito da sua autonomia. Aveiro: Campeão das Províncias, 1899.
- CUNHA, José Tavares Afonso e- Notas Marinhoas. Murtosa: Edição do Autor, 1972. 2 vol.
- CUNHA, José Tavares Afonso e- Notas Marinhoas. Murtosa: Edição do Autor, 1984. 3 vol.
- CUNHA, José Tavares Afonso e- Notas Marinhoas. Murtosa: Edição do Autor, 1994. 4 vol.
- CUNHA, José Tavares Afonso e- Notas Marinhoas. Murtosa: Edição do Autor, 1995. 5 vol.
- CUNHA, José Tavares Afonso e- Notas Marinhoas. Murtosa: Edição do Autor, 1995.
- CUNHA, José Tavares Afonso e- Notas Marinhoas. Murtosa: Livraria Ramos, 1965. 1 vol.
- PEREIRA, Lopes- Murtosa Terra Nossa. 2ª ed. Murtosa: Câmara Municipal da Murtosa, 1995.
- PEREIRA, Lopes- Murtosa: Gente Nossa. Murtosa: Câmara Municipal da Murtosa, 1995.
Lenda ou tradição:
"Diz-se, na tradição corrente, que a progenitora do grande povo da Murtosa terá sido uma moça muito bonita, chamada Teresa Caqueja, natural de Fermelã, desterrada para aqui em expiação de crime que a tradição não pormenoriza.
A Murtosa então, ainda sem nome, era terra de condenados ao desterro. Sozinha entre o céu e a terra lodosa, construiu a primeira casa de tábuas, uma arrecoleta ou recoleta na costa do Chegado, no local que ainda conserva o nome de "Chão das Figueiras". Sobreviveu. Arroteou um pedaço de terreno, fez horta, semeou e viveu do que colhia.
Um dia, um pescador que passava encostou o barco à borda. Encontrou a Teresa sozinha. Falaram. Eram ambos moços. Amaram-se e casaram. Tiveram filhos. Entre fomes e farturas cresceram e multiplicaram-se no cumprimento do mandato genesíaco. Ele na água, pescando, arrancando o estrume para os campos. Ela tratando da terra. Ambos na simbiose característica da nossa gente "anfíbia" como, séculos depois, escrevia Raul Brandão."
VILAR, Jaime - Lenda ou Tradição?. Boletim da Biblioteca Municipal da Murtosa. Murtosa: Câmara Municipal da Murtosa (1993), p.11.
A Origem do Nome Murtosa
Murtosa ou Murtoza?
A origem do nome deste concelho é por vezes um grande tema de discussão. Isto, porque a sua palavra primitiva sofreu grandes alterações com a evolução da língua portuguesa.
A história conta que esta era uma terra de «fogo morto»; terra de «foco mortuo»; terra mortua; terra mortuosa; terra mortosa; mortosa; murtosa.
Mortaus; mortua, morta ou myrtus; murtus, ; murta, que topónimo Murtosa foi buscar, originalmente, o étimo provável da sua formação?
Dizia-se casal de fogo morto o que estava desabitado e onde o lume se apagara; e por generalização : toda a terra inculta ou despovoada.
Na baixa latinidade, até D. Dinis, e em todos os documentos: terra de focuo-mortuo. Alterando-se a grafia, a seguir, para vulgar, a forma: terra mortua que, em sentido colectivo pelo reforçamento do sufixo OSA, nos apareceu transportada em terra mortuosa.
Vocábulo este que a crise e a fonética aligeirara : -terra mortusa < MORTOSA.
Nos velhos manuscritos que vão passando, o topónimo do nosso apadrinhamento surge, a cada passo, diferentemente grafado até nos próprios documentos oficiais:- MORTOOZA; MORTTOZA;MORTOZA;MURTOOZA, MURTOZA; MURTUOZA.
Para leis da fonética, é vulgaríssima conversão da vogal átona O em U, e na grafia arcaica, com frequência, se duplicavam as vogais tónicas. Assim se teria descaído em MURTOSA.
Terra morta, planura desolada, quase sem vida vegetativa, que os vendavais, cruéis e assoladores, batiam mais amuide na freima costa recortada.
Esta designação de «terra morta», deve-se ao facto desta zona ser denominada de Beira-marinha, são integralmente uniformes e homogéneas na associação dos caracteres da sua estrutura geológica e étnica. A mesma harmonia as confunde em todos os detalhes do seu conjunto. Até o seu revestimento vegetal é de perfeito aspecto similar. E incluem-se na divisa cenezoica de formação moderna. De natureza sedimentar, emergem hoje no antigo golfo marítimo, de reintrância ainda hoje bem definida, sob a acção de poderosas forças, erosivas e construtivas.
No tempo de Afonso III eram simples afloramentos arenosos, distendidos em medois e cabedelos, farto manto de junças. Escoadoiros barrento. Esteiros, sapães e atoleiros. Ínsoas, lagoas, charcos, ilhotas, canais e ribeiros. Faixas alagadiças e empapadas das vasas aluvianares.
Marinha e ria – enquadramento de maravilhosa traça fisionómica que corda de areia fulva veio fechar, depois, até Mira às iras oceânicas e a muralha esborcinada do paleozoico cintou a nascente. Perspectiva onde os olhos se nos ficam a abeberar-se na perturbante magia dos seus panoramas.
Vale a pena pensar nas nossas origens... descobrimos verdadeiras maravilhas.